Inaldo da Paixão Santos Araújo
Mestre em Contabilidade conselheiro corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, professor, escritor
Lembro-me do tempo em que os jornais impressos enchiam nossas manhas com notícias variadas. No quintal da memória, vejo meu pai, Seu Paixão, a folhear parte da história da Bahia, do Brasil e do mundo, sempre atento aos detalhes e aos comentários do nosso A TARDE. Durante décadas, os jornais trouxeram em suas páginas uma espécie de almanaque. Além das triviais notícias, desfrutávamos de charadas, palavras cruzadas, enigmas Jogos do pensamento que estimulam a criatividade e o raciocínio lógico. Houve ainda o tempo dos folhetins literários, de estilo seriado, tal qual novelas subdivididas em capítulos. A notícia sempre foi o prato principal, mas o leitor ganhava também um plus de divertimento e cultura.
Os jornais, enquanto escreviam a história, convidavam o leitor para o exercício da mente. Decerto, o mundo mudou. A divulgação tornou-se mais ágil, a ampliação do jornal físico para o meio digital transformou a lógica da indústria cultural. As redes sociais viralizaram as notícias. Entretanto, a despeito das fake news que impregnam a babel do mundo digital, o jornalismo, impresso ou virtual, continua escrevendo a história.
E por falar em história, nesses tempos trevosos, ressurge me uma ideia a partir da perda do célebre e saudoso historiador Henrique Dias Tavares. O emérito professor publicou o livro “Historia da Bahia”, uma das obras mais representativas da cultura deste estado. Esta mesma obra, que reúne importantes dados sobre a formação do povo baiano, foi encartada em fascículos na imprensa. O imortal Jorge Amado também teve vários de seus títulos publicados em parceria com jornal.
Então, segue mais uma vez a dica: seria de extrema importância, aproveitando este momento, reeditar as coleções de Henrique Dias e de Jorge Amado. Caso seja oneroso, ou haja restrições das famílias ou da editora, poderiam ser usados títulos de domínio público, editando-os em parceria com órgãos públicos, ou quaisquer instituições que promovam a cultura. Com essa iniciativa, creio que todos ganhariam a família dos autores, os jornais e, principalmente, a sociedade.
O suporte digital também vale para a reedição de obras de domínio público, como “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, e os livros de Monteiro Lobato. Tudo a um custo acessível, em suporte físico ou digital (e-book). Paralelamente às aulas virtuais, o conheci mento histórico e literário seria um reforço para os alunos.
Outra ideia: os meios de comunicação poderiam promover concurso de redação sobre os livros editados, com premiações. Em síntese, seria a notícia alimentando a cultura (e vice-versa) e formando dados críticos. Afinal, neste momento de pandemia, a leitura torna-se um balsamo. Uma das melhores e mais acessíveis terapias.