Leia o artigo “COVID-19. ESTAMOS PERDENDO A GUERRA” do presidente do TCE-ES Rodrigo Chamoun

COVID-19. ESTAMOS PERDENDO A GUERRA

O Brasil atingiu cem mil mortos pela COVID-19 em pouco mais de quatro meses. Estima-se que durante os vinte anos da Guerra do Vietnã foram mortos quase 60 mil militares americanos. Portanto, os números chocantes nos levam a crer que, não apenas o Brasil, mas o mundo vive uma guerra. Nada é capaz de eliminar vidas, dizimar economias e causar tanto sofrimento, em todos os países do planeta ao mesmo tempo, como uma pandemia. E nesse cenário dramático temos os países que estão vencendo e aqueles que estão perdendo a guerra.

Um exemplo de país vencedor é a Nova Zelândia. Lá há 1.569 casos, 22 mortos e um índice de mortes por grupo de 100 mil habitantes de 0,45. A primeira-ministra Jacinda Ardern, com apenas 39 anos, adotou medidas inteiras. Decretou o Nível de Alerta 4, o mais severo dos quatro níveis, em 25 de março de 2020. Dentre muitas medidas estavam rigorosas restrições de atividades recreativas, viagens, fronteiras, locais públicos fechados, escolas e empresas fechadas, exceto serviços essenciais.

Em 08 de junho de 2020 a Nova Zelândia passou para o Nível de Alerta 1, onde todos podem retornar sem restrições ao trabalho, escola, esportes e viagens domésticas, e podem se reunir com quantas pessoas quiserem. Há ainda o controle nas fronteiras para aqueles que entram no país, incluindo, para todos que chegam, exames de saúde, quarentena ou isolamento gerenciado obrigatório por 14 dias.

O Brasil está no grupo dos países que estão perdendo a guerra. Encontra-se em segundo lugar no número absoluto de casos e mortes no mundo. Há de se destacar, todavia, que o índice de 46,43 mortes por grupo de 100 mil habitantes o coloca em 5° lugar dentre os 20 países mais afetados do planeta. Todos os dados são da Universidade Johns Hopkins.
O país adotou políticas de meias medidas para todos os lados, apesar do esforço de alguns governantes. Parte significativa dos brasileiros adotou quarentena meia-boca, máscara no queixo e distanciamento físico de alguns centímetros. Tudo isso estenderá a guerra contra o vírus. Segundo o general Sun Tzu, no renomado tratado de estratégia militar “A Arte da Guerra”, a inteligência nunca foi associada a decisões demoradas, não havendo na história, notícia de um país que tenha se beneficiado com uma guerra prolongada.

Em um outro momento da história, Winston Churchill, um jovem oficial do exército inglês com apenas 23 anos, lutava ao lado de 50 mil soldados na Índia, que na época era colônia do Império Britânico. Churchill, descrevendo a situação na fronteira para o jornal Daily Telegraph, relatou que “quanto mais tempo durar a política de meias medidas, mais distante estará o fim da luta”.

Aqui, a opção de políticas de meias medidas nos custará milhares de outras vidas, amargura social e calvário econômico. Em uma guerra, muitas coisas dependem dos governos, mas tantas outras dependem de nós, apenas de nós. O uso correto da máscara, a higiene pessoal e o distanciamento físico “possível” são as armas que nos sobraram.

RODRIGO CHAMOUN é presidente do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo.

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